Thiago Lasco , 6 Minutos – São Paulo04/05/2021 – 19:43
Os fundos imobiliários continuam sendo uma boa ferramenta de diversificação para o investidor que mira o longo prazo. Mas o cenário mais imediato ainda tem seus desafios. Vários setores vivem em compasso de espera pelo avanço da vacinação contra covid-19, que autorizará uma retomada mais consistente da economia. Prova disso é que o IFIX, índice dos fundos imobiliários, andou de lado no último mês, fechando abril com tímido ganho de 0,51%, uma variação de apenas 0,04% sobre o mês anterior.
Isso não quer dizer que não existam fundos entregando performances bastante interessantes. A plataforma de informações financeiras Economática fez um levantamento dos 10 fundos que integram a carteira do IFIX que tiveram maior rentabilidade em abril, pelo método TSR (retorno total ao acionista). Os quatro primeiros colocados tiveram ganhos superiores a 5% no mês.
É preciso considerar, também, que há diferenças sensíveis entre o desempenho dos diversos tipos de FIIs. Alguns, mais chamuscados pela pandemia, ainda apresentam dividend yields comprimidos e descontos expressivos no preço das cotas em relação ao valor patrimonial, especialmente os de shopping centers. Mas outros, como os de logística, acabaram sendo beneficiados e hoje são negociados com ágio.
Vitor Bidetti, CEO da Integral Brei, examinou a conjuntura atual de cada setor, com o suporte de dados da Economática e da consultoria Quantum.
O que dá lastro a um fundo imobiliário são as propriedades que constituem o seu patrimônio. Cada cota corresponde a uma fração desse patrimônio e, portanto em tese seu preço refletiria esse valor. Mas, como o preço de mercado flutua de acordo com a lei da oferta e da procura, as cotas podem acabar sendo negociadas acima ou abaixo do valor patrimonial – o que significa que o fundo está sendo vendido com ágio ou desconto, conforme o caso.
Os 11 fundos com melhor rentabilidade
Nome do fundo | Ticker | Rentabilidade de abril (%) | Rentabilidade Acumulada em 2021 (%) |
---|---|---|---|
Santander Papeis Imobiliários CDI | SADI11 | 6,75 | 7,50 |
BB Progressivo | BBFI11B | 6,60 | 27,91 |
Malls Brasil Plural | MALL11 | 5,55 | -2,96 |
Banestes Recebíveis Imobiliários | BCRI11 | 5,48 | 5,88 |
BTG Pactual Corporate Office | BRCR11 | 4,79 | -1,55 |
XP Crédito Imobiliário | XPCI11 | 4,65 | 11,56 |
Iridium Recebíveis Imobiliários | IRDM11 | 4,62 | 14,17 |
Santander Renda de Aluguéis | SARE11 | 4,34 | 6,50 |
Continental Square Faria Lima | FLMA11 | 3,37 | -4,57 |
REC Recebíveis Imobiliários | RECR11 | 3,32 | 6,27 |
Índice de referência dos FIIs | IFIX | 0,51 | -0,31 |
Desempenho por segmento
LAJES CORPORATIVAS
Vacância média: 17%
Dividend yield: 7,8%
Preço de mercado x valor patrimonial: 0,82x (desconto de 18%)
Comentário: “Estão sofrendo por uma combinação de fatores. Há uma desinformação generalizada sobre o futuro dos escritórios. Fala-se em home office para o resto da vida, o escritório acabou, mas isso tudo é bobagem. A experiência do escritório presencial é insubstituível, o que haverá é um novo formato híbrido, em que se trabalha de casa uma ou duas vezes por semana.
Os escritórios classe A+, ocupados por grandes empresas e que compõem a maioria dos FII de laje, devem voltar à normalidade no ano que vem, após a vacinação. Esse aumento de vacância é transitório, dado que não há novos empreendimentos chegando nesse segmento. Tanto é que o preço dos aluguéis se manteve estável, ao contrário do que ocorreu na crise anterior.”
GALPÕES LOGÍSTICOS
Vacância média: 7%
Dividend yield: 6,3%
Preço de mercado x valor patrimonial: 1,04x (ágio de 4%)
Comentário: “É o segmento da moda e vive uma situação inversa à dos escritórios. Ainda é relativamente pequeno e muito concentrado em São Paulo, há muito potencial de crescimento. Viveu um boom em função do e-commerce na pandemia, com muita demanda por parte de empresas de comércio eletrônico e oferta relativamente pequena. Isso fez a vacância cair de 15% para 7%.
Os preços estão esticados e o dividendo é relativamente baixo; mesmo assim, vale a pena entrar nesse segmento, pensando em diversificação. É um setor que deve apresentar uma resiliência maior nos próximos anos, pela demanda crescente do e-commerce.”
SHOPPING CENTERS
Vacância média: 6%
Dividend yield: 2,7%
Preço de mercado x valor patrimonial: 0,84x (desconto de 16%)
Comentário: “Os fundos de shopping centers estão puxando a média dos FIIs para baixo. Ninguém podia prever o que está acontecendo, eles sempre foram os queridinhos entre os FIIs, pagando dividendos sólidos e de forma recorrente. Eles foram os FII mais afetados pela pandemia e estão com desconto alto. A vacância não mudou tanto porque os administradores estão negociando com os lojistas, mas o dividendo despencou.
Os shoppings com posicionamento muito bom, em endereços não replicáveis, devem voltar com força total no ano que vem – como, aliás, já vimos com as reaberturas no final da primeira onda. Os centros dos grupos Multiplan, Iguatemi e BR Malls devem ter uma volta interessante; vejo aí um bom ponto de entrada para o investidor.”
RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS (“fundos de papel”)
Dividend yield: 7,3%
Preço de mercado x valor patrimonial: 1,08x (ágio de 8%)
Comentário: “Esse segmento vem se confirmando como um grande pagador de dividendos e com estabilidade razoável. O crédito imobiliário vem desempenhando muito bem, favorecido pelo cenário macroeconômico de taxa de juros baixa. A concessão de crédito bateu recorde em 2020, em pleno ano de pandemia, e os fundos de CRI estão crescendo rapidamente. Mesmo sendo negociados com ágio, eles estão conseguindo pagar um excelente yield, de 7,3% ao ano.”
FUNDO DE FUNDOS (FoF)
Dividend yield: 6,5%
Preço de mercado x valor patrimonial: 0,97x (desconto de 3%)
Comentário: “São os fundos mais equilibrados hoje, tanto em relação a preço de mercado como em dividend yield – já que 6,5% é bem a média da indústria de FIIs. Os FoFs são muito interessantes para aquele investidor menor, que não tem conhecimento profundo ou uma boa assessoria. É só escolher uma gestora experiente.”
HÍBRIDOS
Vacância média: 5%
Dividend yield: 6,4%
Preço de mercado x valor patrimonial: 0,97x (desconto de 3%)
Comentário: “Eles combinam propriedades imobiliárias de diferentes tipos, incluindo até mesmo agências bancárias ou lojas de varejo. Têm representatividade bem menor dentro dos FIIs. São um segmento delicado: agências bancárias, em especial, vivem um momento de transformação, na medida em que o modelo de negócios dos bancos vem apanhando das fintechs e corretoras de investimentos. A experiência bancária está mudando rápido e a tendência é de encerramento de agências, o que pode afetar os fundos que possuem esses ativos na carteira.”
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